terça-feira, 20 de março de 2012

Iluminação nos locais de trabalho

Cerca de 80% dos estímulos sensoriais são de natureza ótica. Os olhos desempenham assim um papel fundamental no controlo dos movimentos e atividades do Homem. Uma iluminação adequada é uma condição imprescindível para a obtenção de um bom ambiente de trabalho. A inobservância deste ponto resulta normalmente em consequências mais ou menos gravosas, tais como:
·         Danos Visuais;
·         Tensões psicológicas e físicas;
·         Mau relacionamento pessoal e hierárquico;
·         Menor produtividade;
·         Maior risco de acidentes de trabalho.

Na realidade, a partir de um determinado valor do nível de iluminação (valor ótimo), que é a função da tarefa a executar, deixa de ser vantajoso um aumento da iluminação, pois a mesma passa a ser excessiva.
            A melhor iluminação é sem dúvida a resultante da luz natural, porém nem sempre é praticável o uso único da luz natural, pelo que será necessário recorrer complementarmente à luz artificial. Para que a luz artificial tenha qualidade deverá depender de alguns fatores, fundamentalmente:
·         Da sua adequação ao tipo de atividade em causa;
·         Da limitação do encadeamento;
·         Da correta distribuição das lâmpadas;
·         Da harmonização da cor da luz com as cores predominantes do local.

Fadiga Visual

Um aspeto bastante importante é o da fadiga visual decorrente de uma iluminação desadequada. Esta resulta do excesso de atividade do músculo ciliar do cristalino ou da retina, é o resultado do consumo energético para compensar o esforço necessário para proporcionar a focagem das imagens, através de reações psíquicas, físicas e psicofisiológicas. Esta fadiga manifesta-se por um conjunto de sintomas de incomodidade:
·         Visão toldada;
·         Dores de cabeça mais ou menos intensas;
·         Contração dos músculos faciais;
·         Postura incorreta do corpo.

Para contrariar o problema da fadiga visual o trabalhador e empregador podem optar por fazer algumas pausas na observação e adotar a rotatividade nos postos de trabalho.
A iluminância é medida na prática por um aparelho denominado luxímetro (Imagem 1), em que o seu princípio e funcionamento baseiam-se numa célula fotoelétrica.
Figura 1 - Luxímetro

Iluminação adequada

            Embora as recomendações sobre níveis de iluminação (iluminâncias) para diferentes países apresentem algumas discrepâncias, pode afirmar-se que, de um modo geral, os valores recomendados para os diferentes ambientes e tarefas a executar oscilem entre 150 lux e 2000 lux. São valores bastante inferiores aos obtidos com luz natural, constituindo assim uma solução de compromisso entre os valores que seriam convenientes e as limitações de cariz económico e técnico.

Existem tabelas de valores de iluminâncias para cada tarefa e por ramo de atividade:

Quadro 1 – Iluminâncias recomendadas para ambientes de trabalho



Quadro 2 – Níveis de iluminação e exemplos de atividades

 A norma ISSO 8995:1989 estabelece requisitos de iluminação interior de locais de trabalho para diferentes tarefas. Os valores apresentados são funções das exigências visuais de tarefas, da experiência prática e da eficiência energética. A norma apresenta critérios que visam o desempenho visual satisfatório e o bem-estar dos trabalhadores

Distribuição de luz

Um nível de iluminação bastante elevado é geralmente desaconselhável. Verifica-se que níveis de iluminação superior a 1000 lux aumentam o risco de reflexos prejudiciais e contraste excessivo. Se o olho humano necessita do contraste para funcionar eficazmente, este não deve ser muito acentuado. Encadeamento instantâneo ou permanente aparece quando há uma distribuição muito desigual de luminosidade no campo de visão. Para que haja um contraste aceitável (valores próximos de 1) devem ser evitados:
·         Tampos de mesa refletores;
·         Paredes brancas com soalhos escuros;
·         Tábuas pretas em paredes brancas;
·         Elementos de máquinas polidos.
É igualmente conveniente equipar as janelas com persianas ajustáveis ou com cortinas translúcidas de modo a evitar um contraste excessivo em dias de sol intenso.

O fenómeno do encadeamento (instantâneo ou permanente) surge quando existe uma distribuição muito desigual da luminosidade no campo de visão. O encadeamento pode resultar em situações indesejáveis como a perda de produtividade ou mesmo em acidentes de trabalho.

Uma correta distribuição das fontes de luz no interior de um ambiente de trabalho tem igualmente uma importância fundamental na prevenção do encadeamento.  
O ângulo entre a horizontal e a linha que vai do olho à lâmpada deve ser superior a 30º - figura 2

Figura da esquerda – uma só lâmpada cuja reflexão atinge o campo de visão do trabalhador, com risco de encadeamento: ERRADO
Figura da direita – reflexão de duas lâmpadas, colocadas lateralmente, que não atinge o campo de visão, evitando o encadeamento: CERTO

Luminárias 

            As luminárias são dispositivos que distribuem, filtram ou transformam a iluminação proveniente de uma ou várias lâmpadas e incluem os elementos necessários para fixar e proteger essas lâmpadas e para ligá-las a uma fonte de energia. Quanto à forma de distribuição da luz, as luminárias são classificadas em diretas, semi-directas, difusas, semi-indiretas e indiretas.
            Nas luminárias diretas o fluxo luminoso incide sobre o plano de trabalho, de maneira a que se produza a menor dispersão possível. Estas luminárias permitem o máximo aproveitamento da energia consumida, o que traz vantagem sob o ponto de vista da eficiência energética. Por outro lado, originam zonas muito iluminadas e zonas de sombra nas suas imediações, o que pode aumentar o risco de encadeamento. Quanto às luminárias indiretas estas proporcionam uma iluminação agradável sem encadeamento. Esta é obtida por reflexão total da luz nas paredes e no teto, o que requer uma boa conservação das pinturas de cores claras, este tipo de luminárias são mais dispendiosas em termos de consumo de energia elétrica.
            Nos outros tipos de luminárias encontra-se uma combinação de luz direta que vem da luminária com a luz que é refletida pelo teto, paredes, equipamentos, entre outros.

            Existem três principais tipos de lâmpadas, sendo elas:
·         Lâmpadas de incandescência – tipo de lâmpadas mais antigo, apresentam um rendimento luminoso mais baixo e uma vida relativamente curta, embora a sua instalação seja fácil e o seu custo relativamente baixo.
·         Lâmpadas fluorescentes – rendimento luminoso mais elevado que o da anterior bem como o seu tempo de vida.
·         Outros tipos de lâmpadas – vapor de mercúrio e vapor de sódio.

Manutenção das instalações de iluminação

            A manutenção da rede de iluminação deve ser cuidadosamente planeada, por razões de ordem técnica e económica. Na manutenção das instalações de iluminação há vários aspetos a ter em conta, tais como:
·         Limpeza periódica das luminárias (de forma a que o rendimento das mesmas não seja afetado pela acumulação das poeiras);
·         Verificação regular do estado das paredes e dos tetos (os custos da lavagem ou pintura são compensados por uma maior eficiência luminosa/energética);
·         Existência de uma boa iluminação;
·         Substituição, em grupos, das lâmpadas fluorescentes (quando se atingir 60% ou 70% da sua vida útil, altura em que a sua fiabilidade decresce rapidamente);
·         A manutenção das instalações de iluminação deve ser levada a cabo por mão-de-obra especializada, a horas convenientes, fora do horário normal de serviço ou aquando de uma paragem de produção. A substituição em grupo comporta menores custos e traz vantagens à conservação da instalação.

Reflexão

            No decorrer das atividades que vou realizando, o problema da iluminação vai-se encontrando determinadas vezes ou por insuficiência desta ou reflexos e encadeamentos da mesma. Quando estes problemas se encontram e os clientes mostram dificuldades em resolvê-los economicamente, o que se aconselha são pequenos aspetos, como mudança da disposição das secretárias, a fim de, resolver os reflexos nos ecrãs dos computadores e os encadeamentos dos funcionários. No caso da fraca iluminação quando não é possível alterar o tipo de luminária ou alterar a parte elétrica do espaço, o que se recomenda é o uso de candeeiros para reforçar a iluminação local. Dos locais que vistoriei, essencialmente estabelecimentos de comércio e serviços, e dos relatórios que elaborei, pude perceber que é difícil encontrar um espaço com o nível de iluminância adequado, os empregadores não entendem muitas das vezes a importância da luz, usada corretamente, nos postos de trabalho. O nosso papel passa por alertar os clientes para esta problemática reforçando sempre a nossa ideia em bases e normas legais, como, por exemplo, as normas já referidas no decorrer do texto, o decreto-lei nº243/86 que regula a higiene e segurança no trabalho nos estabelecimentos comerciais, escritórios e serviços e a portaria nº53/71 (Alterada pela portaria nº 702/80) que regula a segurança e higiene no trabalho nos estabelecimentos industriais.      


Fontes:
·         MIGUEL, A.S. (2010), Manual de Higiene e Segurança do Trabalho, 11Ed. Porto Editora.
·         VEIGA, R. (coord.) (2009), Segurança, Higiene e Segurança no Trabalho, Veriag-Dashofer.
·         Diplomas legais e normativos nacionais e comunitários em vigor.

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